segunda-feira, 27 de junho de 2005

Mephistópheles, eu?

Não estou inspirado para escrever, portanto, vou publicar um texto de Goethe com interpretação livre de Antônio Abujamra. Disponível em http://www.tvcultura.com.br/provoca/

"Eu sou Mephistópheles. Mephistópheles, é o diabo. E todos vocês são Faustos. Faustos, os que vendem a alma ao diabo.

Tudo é vaidade neste mundo vão, tudo é tristeza, é pop, é nada. Quem acredita em sonhos é porque já tem a alma morta. O mal da vida cabe entre nossos braços e abraços.

Mas eu não sou o que vocês pensam. Eu não sou exatamente o que as Igrejas pensam. As Igrejas abominam-me. Deus me criou para que eu o imitasse de noite. Ele é o Sol, eu sou a Lua.

A minha luz paira sobre tudo que é fútil: margens de rios, pântanos, sombras.

Quantas vezes vocês viram passar uma figura velada, rápida, figura que lhe darei toda felicidade. Figura que te beijaria indefinidamente. Era eu. Sou eu.

Eu sou aquele que sempre procuraste e nunca poderá achar. Os problemas que atormentam os Deuses. Quantas vezes Deus me disse citando João Cabral de Melo Neto: Ai de mim, ai de mim. Quem sou eu?

Quantas vezes Deus me disse: Meu irmão, eu não sei quem eu sou.

Senhores, venham até mim, venham até mim, venham. Eu os deixarei em rodopios fascinantes, vivos nos castelos e nas trevas, e nas trevas vocês verão todo o esplendor.

De que adianta vocês viverem em casa como vocês vivem? De que adianta pagar as contas no fim do mês religiosamente, as contas de luz, gás, telefone, condomínio, IPTU?

Todos vocês são Faustos. Venham, eu os arrastarei por uma vida bem selvagem através de uma rasa e vã mediocridade, que é o que vocês merecem.
As suas bem humanas insaciabilidade, terão lábios, manjares, bebidas.

É difícil encontrar quem não queira vender sua alma ao diabo.

As últimas palavras de Goethe ao morrer foram: Luz, luz, mais luz!!"

quinta-feira, 16 de junho de 2005

Calaflores no meio do caminho...

Há quase um mês escrevi esta mensagem. Como no polo não é mais possível entrar no blog, só agora conseguirei publicá-la:
No caminho da facu até a República Azúcar (minha atual residência francana) existe uma humilde casinha que reside uma senhora. Às vezes, ela fica com a cabeça enfiada no vão da porta e põe-se a olhar os transeuntes que ignoram sua vil existência. Sempre quando passava por ali aquele ar sombrio e solitário dava-me calafrios e imediatamente surgiam os questionamentos: quem será esta senhora? Qual será sua história? Será que ela vive sozinha? Infelizmente o medo era maior a qualquer dúvida existencial. No entanto, um dia desses de loucura surge a nossa frente o seguinte poema:

No alto da montanha já quase chuvosa
o velhinho passa
metade entre as nuvens, metade entre as ervas
com um ramo verde nas mãos gastas.

Que pensa, que sente, que faz, que destino
é o seu, nesta altura,
cercado de rochas, calado e sozinho,
cercado de nuvens?

E o ramo que leva, tão verde, na tarde
cinzenta e pesada,
a que primavera irá conduzindo
seu corpo ou sua alma?

Para muito longe, muito longe, passa.
Monte sobre monte,
vai-se andando sempre, sempre há um ramo verde,
e depois um largo horizonte.

Cecília Meireles

Ao ouvir tais palavras surgiu em minha frente a imagem da tal senhora. O Fá e eu começamos a conversar e tivemos a idéia de lhe entregar uma flor. No final de semana antes do feriado compramos um vaso de begônia amarela e batemos em sua porta uma, duas, três, quatro vezes e nada. Até descobrimos seu nome: Dona Cida, mas a velhinha... Aproximou o feriado e o chamado de nossas famílias a outros ares nos preocupou, afinal, cinco dias sem água era muito provável que a flor secaria em meio a nossos sonhos. Para a nossa surpresa quando chegamos, ela estava mais bela que antes. E finalmente segunda-feira nós passamos em frente a sua casa e ela estava lá... Para não perdê-la novamente pedimos para que esperasse, pois tínhamos um presente. Corremos feitos loucos e buscamos a flor para nossa querida D. Cida. Entregamos e nos emocionamos ao escutar seu agradecimento misturado com um leve enxugar nos olhos. Hoje passei e ela estava lá. Até parei para conversar um pouco.
E agora, já não sinto mais calafrios
.