domingo, 17 de junho de 2007

Liberdade é futilidade nesse país

Assim que tive conhecimento da frase da Marta Suplicy me lembrei de um trecho do livro de Marshall Berman, Tudo que é sólido desmancha no ar, que diz “É inútil resistir às opressões das injustiças da vida moderna, pois até os nossos sonhos de liberdade não fazem senão acrescentar mais elos à cadeia que nos aprisiona; porém, assim que nos damos conta da total futilidade disso tudo, podemos ao menos relaxar”. A vida moderna se consagra cada vez mais no Brasil, como cidadão, sinto-me cada vez mais aprisionado e parte integrante de estruturas e instituições comprovadamente falidas no objetivo de atender o bem comum, o senado é o exemplo da vez. Nem a cidadania concedida de outros tempos já não faz mais sentido, antes pelo menos os pobres tinha a proteção do senhor de engenho. Agora nas cidades ficamos a mercê da burocracia, do conservadorismo das instituições, da falta de organização e seriedade perante o cidadão. A cidadania comprada também já está difícil de exercer, pelo menos para a classe média, o direito de viajar que comprei não posso exercer plenamente como consumidor. O ditado agora é: “cada um por si e Deus pra mim”, pois quem sabe assim posso pelo menos “relaxar e gozar” no conforto da minha prisão.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Mudança

E eis que surge a mudança! Um conto novo e o o cachorro voador:



terça-feira, 5 de junho de 2007

Acreditar ou não, eis a questão

Odeio quando respondo as coisas e depois reflito sobre elas e mudo de opinião, ou no melhor dos casos lembro que tenho outra opinião. Fico me perguntando: por que respondi aquilo? Sendo que no meu íntimo já havia pensado e chegado a outra conclusão. Será que isso ainda não está claro pra mim? Evidentemente não quero que minhas opiniões tornem-se minhas próprias tiranas. Dizem que mudar de opinião é falta de convicção ou algo do tipo, sinceramente não compactuo com isso, mudar de opinião é sempre bom, mostra o quanto estamos abertos, o quanto estamos dispostos a ouvir e considerar o outro e o quanto podemos crescer com isso, sem, no entanto, nos abdicarmos de nossa individualidade intelectual e cognitiva. Mas o que me deixa intrigado, e às vezes irritado, é quando digo algo que na verdade reflete minha opinião mais superficial sobre o assunto. Tenho a impressão que disse apenas devido ao contexto me exigir tal posicionamento. Por exemplo, hoje aconteceu algo do gênero. Estava conversando com uma amiga e ela disse mais ou menos assim: “Já não acreditamos em Deus, se não acreditarmos nos homens, quem seremos então?”. Na hora, concordei expressando minha crença nos homens, mas agora refletindo melhor: acreditar nos homens?. Como acreditar em seres cujo mecanismo de sobrevivência se assemelha a um vírus? Como acreditar em seres cujas atitudes são como um câncer na terra? Difícil... É claro que não é tão simples assim, normalmente quando chego a este nível de indignação me pergunto: “mas eu acredito em mim?”. A resposta normalmente é sim. Aí vem o silogismo básico:

Eu sou um homem.
Eu acredito em mim.
Logo, acredito nos homens.

No entanto, meu espírito cético não fica satisfeito com essa conclusão. Sempre fica algo de desconfiança no ar, algo de “não pode ser tão simples assim”. Não posso arbitrariamente reduzir isso a uma crença individual em mim mesmo, ou posso? Mas o equivoco começa no conceito crença, o que significa crer em mim ou no ser humano? O problema, portanto, está no enunciado da questão: “já não acreditamos em Deus”. Ao colocar o ser humano no mesmo patamar de Deus, minha associação direta foi questionar a existência metafísica no caso de Deus e física no caso dos homens, por isso desconfio ter concordado no momento. Mas o sentido de crer não deve caminhar por esta via, pois isto não é uma questão digna de preocupação filosófica, pois se trata de fato ontológico. O primeiro apenas existe enquanto consciência coletiva, a existência ou não metafísica é pura especulação, ou como diria os mais sensatos: masturbação teórica. Na outra ponta, nem precisa muitas reflexões, basta um beliscão. A questão, portanto, está em acreditar se o homem é bom, se suas ações são confiáveis, enfim, se seu comportamento é digno de crença. Bom, quanto a isso basta darmos um breve olhar na história da humanidade e vermos os resultados nos dias de hoje e fecharmos com um bom silogismo dedutivo:

Eu sou um homem.
Os homens são um câncer.
Logo, eu sou um câncer.

Mas ainda falta algo. Fechar com isso seria muito fatalismo da minha parte, do mesmo jeito que acreditar nos homens seria muita ingenuidade messiânica. Sou obrigado a considerar que o ser humano também constrói coisas belas. Mas aí também sou obrigado a considerar que essas coisas não fazem parte da construção do gênero humano e sim são expressões individuais que contemplam e dizem sobre o gênero humano. Portanto, não seguirei a tendência da qual Dostoievski dissertou, que o homem moderno "ama a humanidade e odeia o indivíduo". Estou plenamente convicto (o que não significa que não posso mudar no futuro, mas duvido muito) que odeio a humanidade e amo o indivíduo. Apenas o indivíduo existe*, o resto é resto. É construção histórica. São hábitos que se transformaram em leis, religiões, instituições, enfim...

Eu sou um ser individual.
Eu acredito no indivíduo.
Logo, a única coisa que existe é o indivíduo.

*Sobre este assunto recomendo a leitura do A alma do homem sob o socialismo, de Oscar Wilde, disponível no endereço que indiquei abaixo. Em outro momento publico algo sobre isso, pois no momento estou com sono...