Assim que tive conhecimento da frase da Marta Suplicy me lembrei de um trecho do livro de Marshall Berman, Tudo que é sólido desmancha no ar, que diz “É inútil resistir às opressões das injustiças da vida moderna, pois até os nossos sonhos de liberdade não fazem senão acrescentar mais elos à cadeia que nos aprisiona; porém, assim que nos damos conta da total futilidade disso tudo, podemos ao menos relaxar”. A vida moderna se consagra cada vez mais no Brasil, como cidadão, sinto-me cada vez mais aprisionado e parte integrante de estruturas e instituições comprovadamente falidas no objetivo de atender o bem comum, o senado é o exemplo da vez. Nem a cidadania concedida de outros tempos já não faz mais sentido, antes pelo menos os pobres tinha a proteção do senhor de engenho. Agora nas cidades ficamos a mercê da burocracia, do conservadorismo das instituições, da falta de organização e seriedade perante o cidadão. A cidadania comprada também já está difícil de exercer, pelo menos para a classe média, o direito de viajar que comprei não posso exercer plenamente como consumidor. O ditado agora é: “cada um por si e Deus pra mim”, pois quem sabe assim posso pelo menos “relaxar e gozar” no conforto da minha prisão.
domingo, 17 de junho de 2007
Liberdade é futilidade nesse país
sexta-feira, 15 de junho de 2007
terça-feira, 5 de junho de 2007
Acreditar ou não, eis a questão
Eu sou um homem.
Eu acredito em mim.
Logo, acredito nos homens.
No entanto, meu espírito cético não fica satisfeito com essa conclusão. Sempre fica algo de desconfiança no ar, algo de “não pode ser tão simples assim”. Não posso arbitrariamente reduzir isso a uma crença individual em mim mesmo, ou posso? Mas o equivoco começa no conceito crença, o que significa crer em mim ou no ser humano? O problema, portanto, está no enunciado da questão: “já não acreditamos em Deus”. Ao colocar o ser humano no mesmo patamar de Deus, minha associação direta foi questionar a existência metafísica no caso de Deus e física no caso dos homens, por isso desconfio ter concordado no momento. Mas o sentido de crer não deve caminhar por esta via, pois isto não é uma questão digna de preocupação filosófica, pois se trata de fato ontológico. O primeiro apenas existe enquanto consciência coletiva, a existência ou não metafísica é pura especulação, ou como diria os mais sensatos: masturbação teórica. Na outra ponta, nem precisa muitas reflexões, basta um beliscão. A questão, portanto, está em acreditar se o homem é bom, se suas ações são confiáveis, enfim, se seu comportamento é digno de crença. Bom, quanto a isso basta darmos um breve olhar na história da humanidade e vermos os resultados nos dias de hoje e fecharmos com um bom silogismo dedutivo:
Eu sou um homem.
Os homens são um câncer.
Logo, eu sou um câncer.
Eu sou um ser individual.
Eu acredito no indivíduo.
Logo, a única coisa que existe é o indivíduo.