sábado, 22 de setembro de 2007

A Terra e a Morte

A terra é um organismo vivo e todos os organismos vivos tem um destino inevitável: a morte. Nada que o ser humano fazer salvará a terra da destruição, aliás, pelo contrário, tudo que tentar fazer servirá cada vez mais para alimentar os elos desta cadeia. Não adianta ficarmos discutindo sobre a melhor maneira de preservar nosso planeta, isto no máximo pode atrasar algumas centenas de anos.
Quando a Terra parou para pensar...
A Terra é uma senhora que chegou na menopausa, ondas de calor constante assolam seu corpo já cansado. Ainda terá uma velhice tranquila, terá bons anos de vida felizes, mas com a constante entropia destruindo seu interior e exterior. No exato momento caminha até a praia para se lembrar de seus anos de vida. Senta-se a beira mar e com os olhos fixos no horizonte recorda de quando era uma criança sem entender muito o que estava acontecendo contigo. Apenas sentia as transformações ocorrendo, suas células se multiplicarem e se complexificarem. Ainda não tinha consciência, sobretudo, da morte. Não entendia que aquelas transformações dariam para si o maior prazer de pensar sobre si mesma. De entender suas paixões, angústias, prazeres, fazeres. Lembrou-se da adolescência conturbada, questionando seu pai sol porque era tão bravo e caloroso contigo. Foi nesta mesma época que se apaixonou pelo grandioso Júpiter, moreno de cabelos longos, imponente e atraente com seus satélites naturais. Alguns planetas diziam que a paixão aconteceu devido aos satélites de Júpiter, poucos possuiam satélites tão atraentes. No entanto, sua irmã Vênus ficou com ciúmes e inventou boatos que a terra tinha uma doença terrível chamada húmanus. A terra ficou enfurecida com essa história, tentou explicar para Júpiter que era apenas um vírus inofencivo, que não precisava ter medo que ele não teria condições de sobreviver em seu corpo quente. Mas foi inútil, seu amado já estava apaixonado pelos encantos de Vênus. Seu amigo Marte não concebeu a idéia e quis guerriar com Júpiter. Loucura, pensou a Terra, tão pequeno e querendo enfrentar Júpiter. Mas sua coragem chamou a atenção de nossa senhora, e Marte quase foi infectado pelo vírus húmanus. Até hoje a Terra pensa que teve alguma infecção e sempre pergunta a Marte se tem vestígios dessa época. Toda essa história mudou bastante os sentimentos da Terra, sentiu pela primeira vez que o mundo era cruel, pensou em se matar, mas resistiu e seguiu sem entender muito os rumos do destino da vida. As incertezas sempre a acompanhou, sempre recitou poemas em seus mares turbulentos e agora sente com ardor a única certeza da existência: a morte.

Um comentário:

Anônimo disse...

Algumas experiências realmente modificam nosso interior. Mas essas mudanças não ocorrem logo após o momento em que acontecem as experiências. Não são como em um filme que existem reviravoltas emocionais logo após os acontecimentos. Precisamos da legenda: Seis meses depois... E é neste vão que pode durar seis, oito ou até 12 meses, que refletimos e nos deparamos com nós mesmos, com as conseqüências dos nossos atos. É estranho e indecifrável porque as pessoas usam tempo diferentes, mas o fato é que ele é a única variável que não podemos descartar para compreendermos a marcha da história de um indivíduo, ou até mesmo de uma sociedade. Acredito que qualquer mudança imediata não é mudança é instinto de sobrevivência, reflexo natural. A mudança mesmo precisa de tempo que é acompanhado de dor, sofrimento e angústia. O tempo é o alicerce que solidifica os sentimentos, as reações e a percepção das conseqüências que decoram um quarto a meia luz, que possui qualquer coisa de melancólico, qualquer coisa de alegria, mas que reflete todos os momentos vividos durante uma legenda que simplesmente é passada solitariamente em uma tela de fundo azul e com uma trilha sonora que nunca será ouvida por aqueles que um dia acreditaram conhecer quem era você. Acontece que você não é mais você, é claro que continua tendo o mesmo formato, os mesmos pés, mãos e cabelos, mas são pés calejados, mãos arranhadas e cabelos perdidos no mesmo vão que um dia não terá mais importância, porque não será mais uma legenda e sim uma cena principal ou quem sabe todo um ato. Evidente, atraente e com a mesma inteligibilidade que as experiências e suas mudanças.
Seria pretensão minha descrever comportamentos humanos de forma genérica, mas acredito que no mínimo uma ou duas pessoas compartilhem de minhas percepções. O principal que quero transmitir neste texto é o que e como mudou. Um dia me falaram, não me recordo exatamente quem, quando e onde, que criamos mecanismos de defesas. Acredito nisso. Mas acontece que um dia esses mecanismos se gastam com o tempo, esse mesmo que também servirá para solidificar a mudança desse mecanismo. E quando isso acontecer você se deparará com outro eu. Um eu doente, fracassado e inseguro. Este eu não conseguirá usar aqueles mecanismos que um dia serviram para escondê-lo de você mesmo. Será uma bolha de ar que surge no fundo o oceano e flutua lentamente até a superfície e se misturar com a atmosfera da sua consciência. Causando efeitos e conseqüências que desencadearão feitos e ações doentias, fracassadas e inseguras. Este ar que brotou do fundo do oceano se dissipará no infinito do espaço e será neste momento que o tempo atuará como uma legenda de um filme. E após seis meses... Você começará a criar novos mecanismos para esconder o eu do seu outro até que o seu outro se torne seu eu. E este eu será alguém consciente do seu outro, que ficará lá. No fundo do seu pensamento, latente e sofrendo as ações dos novos mecanismos que um dia se gastaram com o tempo. Mas aí não terás mais o tempo, e no leito de sua morte, se isso acontecer, perceberá que toda a sua vida foi uma constante defesa contra a própria vida, levantará e ao olhar nos fundos de seus próprios olhos refletidos no espelho se dissipará no espaço e tudo se tornará apenas uma coisa, uma pasta condensada e disforme. A consciência não existirá mais e a única coisa que sobreviverá será o tempo.

Leandro José de Araújo